A Trança e os desafios da condição feminina
A Trança, de Laetitia Colombani
Lançado em janeiro no Brasil pela editora Intrínseca, o livro marca a estreia na ficção da roteirista, atriz e cineasta francesa Laetitia Colombani, de 45 anos. A Trança foi traduzida para 40 idiomas, vendeu mais de 1,4 milhão de exemplares na França e está sendo adaptada para o cinema. O livro vai entrelaçando, como uma trança mesmo, as histórias de três mulheres com vidas muito diferentes.
Esta técnica literária de cruzar personagens que aparentemente não tem nada a ver não é nova e até de certa forma perigosa, mas Laetitia Colombani faz isso de forma impecável. O problema geralmente está na expectativa que se cria do desfecho. A gente passa o livro todo construído um final na nossa cabeça de leitor. E às vezes o encontro das personagens nos decepciona. Mas quando nos surpreende, aí é uma maravilha! Foi assim comigo no livro desta francesa que virou fenômeno literário ao contar as histórias de três mulheres com realidades tão distintas: Smita, Giulia e Sarah.
São personalidades, trajetórias e realidades muito diferentes. Aparentemente nada pode ligar estas mulheres, mas o final surpreendente é cheio de significados e a escrita delicada e ao mesmo tempo firme, que por vezes chega a incomodar, nos leva a um sentimento profundo de solidariedade com estas três mulheres. Sem apelos ou drama fácil, Laetitia vai traçando paralelos entre Smita, Giulia e Sarah. Esses paralelos, tecidos lentamente, como quem trança fios de cabelo, nos levam a um ponto em comum: a condição feminina e seus desafios. Eles existem sempre, em maior ou menor escala. Em qualquer lugar.
Em entrevista à Rafaela Polo para a Universa do UOL, Laetitia Colombani, conta que sempre quis escrever sobre a condição feminina e para isso se inspirou em todas as mulheres que conheceu e com as quais conviveu. Ela lembra que continua sendo muito difícil ser mulher, que carregamos, sim, o peso do mundo nas costas, precisando ser boas no trabalho, na maternidade, como esposas. Boas em tudo o tempo todo. Ela conta também que a escolha das personagens não foi por acaso. Laetitia esteve varias vezes na India e se viu obrigada a mostrar as condições subumanas em que vivem as mulheres naquele pais, sobretudo as mulheres Dalits, consideradas impuras. Por isso criou Smita. Giulia serviu pra mostrar como às vezes algumas dificuldades nos fazem amadurecer de um dia para outro mas nos mostram que somos capazes. As mesmas adversidades que levaram a profissional Sarah a rever suas prioridades de vida.
A Trança foi uma grata surpresa. Do início aparentemente desconexo, passando pelos capítulos difíceis de ler da realidade dura de Smita na Índia, pela descoberta da doença de Sarah e do amadurecimento imposto a Giulia, chega-se a um belo final. Um final carregado de simbolismos e significados, que nos faz refletir sobre a vida, sobre a solidariedade feminina e sobre nossa responsabilidade na construção de uma realidade mais justa para nossas filhas. Na Índia, no Canadá, na Italia ou aqui, no Brasil.
Título: A Trança
Título original em francês: La Tresse
Autora: Laetitia Colombani
Editora: Intrínseca
Páginas: 208
Ano de Lançamento: 2021